Beatriz´s box

Devaneios para esquecer sem perder.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

eu nos livros;os livros em mim

" Um domingo puseram-se a caminho logo de manhã; e, passando por Meudon,Bellevue, Suresnes, Auteuil, ao longo de todo o dia vagabundearam entre os vinhedos, arrancaram papoilas à beira dos campos, dormiram deitados na erva,beberam leite, comeram debaixo das acácias das casas de pasto e regressaram muito tarde, empoeirados,encantados.Repetiram frequentes vezes estes passeios, mas os dias seguintes eram tão tristes que acabaram por desistir.
A monotonia do escritório tornava-se-lhes odiosa.Sempre a raspadeira e a sandáraca,o mesmo tinteiro, as mesmas penas e os mesmo colegas! A estes, consideravam-nos estúpidos e falavam-lhes cada vez menos; o que lhes valeu más vontades.Chegavam todos os dias atrasados e foram alvo de admoestações.
Dantes sentiam-se quase felizes.Mas a sua profissão humilhava-os desde que se tinham em melhor conta; e reforçavam-se nesta repugnância, exaltavam-se mutuamente, eral indulgentes consigo mesmos.Pécuchet foi contagiado pela aspereza de maneiras de Bouvard,Bouvard contraiu algo da melancolia de Pécuchet.
- Apetecia-me ser saltimbancoo de praça pública! - Dizia um.
- Antes ser trapeiro - Exclamava outro.
Que situação abominável! E não havia maneira de saírem dali! Nem sequer esperança! "


'Bouvard e Pécuchet'
Gustave Flaubert
Edições Cotovia

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

big piece of heaven

se há momentos que temos de guardar para sempre, este é um deles.
o frio era muito,e tenho de dizer que não estava assim tão em expectativa como podia ter estado há uns anos para ver divine comedy.ao sentar-me na primeira fila até cheguei a perguntar,ele vai cantar coisas mais antigas???
mas tudo o que tinha esquecido do quanto eu gostava dele,relembrei mal ele entra de fato,chapéu de coco,cachimbo e mala.
e na quarta música fiquei rendida...'The Certainty Of Chance' senti as lágrimas de momentos passados,de quem fui,de quem sou.
simplesmente divino!!!!!!!!!!!!!




foto penso que de Anna Mitros



quarta-feira, 26 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

mais do mesmo

O pensamento durante as passadas semanas foi ...quem consegue trabalhar das 9 ás 18 (ou nas suas variadas vertentes)quando se ouve The National complusivamente???
Com a semana terminada e o estado de normalidade a voltar a mim ,eis que encontro isto




e é claro,que a obsessão regressou

quinta-feira, 22 de abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

sem dúvidas

Há dias que que só nos vemos através de palavras de outros,de imagens de arquivo, de músicas perdidas numa cassette. Porque há momentos que esquecemos quem somos e de que é disto que somos feitos



domingo, 21 de março de 2010

Poesia

Poema da despedida


Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo


Mia Couto "Raiz de Orvalho e outros poemas"

sábado, 20 de março de 2010

entre o dia e noite

em Roma





ou entre o sonho e a realidade

sexta-feira, 19 de março de 2010

uma casa no paraiso

se há momentos que quero guardar em mim um pouco menos que a eternidade,são aqueles que me enchem de beleza.beleza que me faz deslocar-me de mim mesma,que me torna outra,que me faz ver com outros olhos o mundo que me rodeia.
foi um destes momentos que passei alguns dias atrás ao som dos Beach House.

todo o tempo foi esquecido quando embalada numa voz que ultrapassa o sentido do género,onde por momentos conseguia ver as asas num anjo em poder de uma arma que dispara um som inesquecível,num corpo que não esconde o exorcismo de um prazer,de uma loucura que vem de dentro.de outros que com ela nos incintam ao culto da beleza.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

dias longos

hoje houve quem não conseguisse mais viver.
hoje houve quem morresse, de tristeza, de dor,de algo que faltava e da qual não conseguia viver sem.
o que fazemos em dias normais para esquecer a dor que sentimos?
porque vamos mesmo não querendo ir?
porque dizemos que sim quando queremos dizer que não?
para quê? para quem?
de que serve um trabalho que 'slowly kills you'?
de que serve sobreviver se não podemos viver?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Hoje

Ponho uma música e de momento não me importo qual. O som deve ser calmo, mas isso todas elas são.
É uma noite fria e negra aquela que vejo e sinto lá fora.
E hoje o que queria realmente era sair, de casa, da cidade.Queria fazer a mala e correr para apanhar o último transporte para parte alguma, sentar-me e tirar do saco o chá quente,o bolo doce e macio.manter o copo quente entre as mãos,encostar a cabeça á janela e ver arvores,carros,luzes a voar em frente dos meus olhos.
Hoje o que queria realmente era ter já chegado a parte alguma,e estar sentada naquele lindo cafe, onde o sofá que dá para a janela está vazio como a convidar-me a sentar.Queria pedir aquele chocolate quente com sabor a baunilha,deliciar-me a cada gole. e abrir um livro e ver as personagens aparecerem do outro lado do vidro.
Hoje o que queria era viver nos livros que leio,é dançar a musica que oiço no mundo que elas mesmo criam.
Hoje o que queria era sonhar e por isso vou dormir.

sábado, 5 de setembro de 2009

Noites

Gosto de noites frias,longas,escuras.Com pequenos focos de luz,que não me deixam ver totalmente a rua,que me deixam imaginar partes,que me deixam esquecer outras...


gosto de me perder em ruas,de becos que me levam a lugares encantados,com luzes que reproduzem sombras que conheço de sonhos passados.
de cores que se formam quando o sol se põe e os candeeiros se acendem devagar.



gosto de poder voltar a estas noites, mesmo que seja simplesmente quando abro esta caixa.mesmo que seja simplesmente quando revejo imagens,que me fazem voltar a lugares longinquos que um dia estiveram tão perto.

domingo, 30 de agosto de 2009

Repeat mode

Só dei conta das saudades que tinha de um cd que repetisse vezes sem conta no meu leitor, quando não consegui parar de carregar na tecla repeat.
Este 'Skyscraper' do Sr. Interpol,assim o chamo eu,do Sr.Julian Plenti aka Paul Banks,leva-me aos lugares onde estive na primeira vez que ouvi 'Turn on the bright lights' escuros,longos,longe do sofá onde salto,pulo e canto; onde todas as palavras entram em mim como palavras de ordem que me fazem mexer,gritar. A voz que muda quando as palavras dizem tanto,a música que canta por ele quando não há mais palavras a dizer.




' They choose your side
But the day brings the
Pride of the light

Oh my peace comes at night
I will never break from the shadow
Inside, to be blinded '

terça-feira, 28 de julho de 2009

Estado de espírito

(...)Chepilov trabalhava na Sibéria. O gosto pela ciência e pela solidão levara-o a estes lugares afastados. Era um homem que não suportava nem o barulho, nem as cores, nem os cheiros. (...) Ele próprio sofria de uma doença rara,que afectava o seu comportamento; não suportava qualquer contacto humano. Não gostava que lhe tocassem, que o ouvissem e, sobertudo, que o olhassem.
(...) A mania de Chepilov, o seu nojo pelo homem, o que poderíamos chamar de anti-humanismo,revelava-se em doenças de pele.Era alérgico à humanidade. Um olhar cobria-o de placas vermelhas,uma carícia de borbulhas, uma palavra amiga enchia-o de eczema. Fizeram exactamente o contrário, trataram-lhe a dermatose juntando-o a outras crianças,e obrgaram-no continuamente a tomar parte nos grupos de jogos.Por isso, ficou com uma autêntica cabeça de sapo. Quando garoto,Chepilov era extremamente feio; a pele escamosa e cheia de borbulhas, e quase sem cabelo aos doze anos. A mãe, enojada com o seu aspecto rupugnante, com a sua pele rugosa e doentia, meteu-o numa casa de reeducação. Foi aí que o pequeno tomou gosto pela leitura, única barreira contra a intromissão social. No estabelecimento de ensino,onde não dormia só e nunca por um instante usufruía da solidão, Dimitri habituou-se a ler para escapar à vida comunitária. Quando lia, tomava o aspecto radioso que mais tarde iria ser tão conveniente para os olhares capitalistas. Harmonioso, e por vezes sublime, aquele rosto mais parecia a imagem dum velho ícone.



'Países Tranquilos'
Rafaël Pividal

domingo, 7 de junho de 2009

Amor vs espaço

' O amor e a distância geográfica.Quando uma pessoa que amamos parte num comboio, por vezes sentimos claramente um certo alívio. Não precisamos de conviver com a realidade, podemos tranquilamente voltar a viver com a nossa ideia.
Qual é a distância máxima a que podemos amar uma pessoa? Uma rapariga por quem estive muito apaixonado no meu tempo de estudante e que se chamava Mónica foi para a Califórnia.Correspondemo-nos durante muitos anos,mas depois a coisa morreu, naturalmente.
Ela existiu (para mim) durante aquele período? Ou era apaenas, já há muito tempo, uma ideia com a qual eu vivia?
Qual é a distância máxima a que podemos amar uma pessoa? 150 Km ? 5 Km? Um dos meus velhos sonhos é ter uma amante em Skultuna. É uma distância perfeita, faz-se de carro em precisamente meia hora. Talvez um pouco menos no Verão e um pouco mais quando há gelo na estrada.
Qual a distância máxima a que podemos amar uma pessoa?
Resposta: menos de um milímetro. E sem nome. '

'A Morte de um Apicultor'
Lars Gustafsson

Quando li este excerto dei conta que também eu,na maioria das vezes,dei por mim a amar(que palavra tão grande) ideias. E devido a isso apenas estas existem, apenas estas são reais.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Para voltar



Porque há lugares que sempre voltamos,porque há lugares que simplesmente não queremos deixar.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Tempo

Há meses que achamos maiores,outros que nos parecem tão curtos,há ainda aqueles que passam sem serem nem pequenos ou grandes.Mas há,pelo menos para mim, aquele mais dificil,aquele em que mim mais pesa,onde é tempo de fazer planos,contar o que se fez,dar de caras com o queriamos e não temos.O peso chega-me no ínicio e quando dou por mim a fazer contas à quantas ando,vejo que Março chegou e que faltam alguns dias para o meu aniversário.E ai entendo o porquê dos planos,dos sonhos que se apoderam de mim;das lágrimas que tão facilmente correm dos meus olhos;a vontade de fechar a porta ao mundo,de ouvir música,de pegar na máquina e fotografar,de escrever,de ler,de me esconder do mundo e me perder nele.Nas letras daqueles onde me leio,na música daqueles onde me oiço gritar,chorar,cantar.
Março já passou,planos ainda faço,certezas tenho algumas e mudanças quero sempre. Espero que o tempo levante o nublado e que me deixe de novo ver o sonho no meio de tão grande realidade.

domingo, 29 de março de 2009

A caixa

Papéis perdidos,esquecidos,gastos,em gavetas,caixas,cadernos. Assim andava o meu mundo que agora aqui venho guardar,ao vento,soltos de mim. Não é fácil largar, mas vou pelo menos tentar. Que as vezes sejam tantas como as vontades.

sexta-feira, 27 de março de 2009